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Pensar as novas problemáticas educacionais em uma perspectiva internacional. 

Pesquisas sobre educação e reconfiguração de espaços escolares e educacionais.

 

16,17, 18 Novembro 2016

Université Paris-Est, France

 

Apresentação

Quais transformações estão se dando nos espaços escolares e educacionais, e por qual(is) projeto(s) democrático(s) no século XXI? Na maior parte dos sistemas educacionais massificados a escola já não é mais o apanágio da transmissão de conhecimento e de suporte para o conjunto de problemáticas escolares e educacionais. Sua capacidade de se encarregar sozinha de responder aos desafios democráticos que lhes são colocados tem sido questionada pelos fatos. Se a escola está confortável em suas funções de socialização e orientação da juventude, se os níveis de formação das novas gerações são superiores aos das precedentes, se as aspirações à democratização escolar são compartilhadas e são colocadas como um problema importante para o desenvolvimento econômico, e mesmo democrático, também é verdade que nenhum sistema educacional tem sido capaz de eliminar as desigualdades sociais e sexuais de desempenho, e isto apesar das importantes diferenças de performance acadêmica.(Janmaat, Duru-Bellat, Green, & Méhaut, 2013). Dados estatísticos sobre o percurso dos alunos fazem lembrar do peso da herança social sobre os destinos escolares. As modalidades de acesso aos diferentes trajetos escolares e aos diplomas são altamente diferenciadas e hierarquizadas segundo sexo, classe social (Bourdieu & Passeron, 1970, Bernstein, 1975) e relações sociais de raça (Stevens & Dworkin, 2014). Torna-se necessário, portanto, analisar as articulações entre essas diferentes categorias (Bereni et al., 2008). Enquanto a distância que separa alunos das classes populares -particularmente os meninos - das normas escolares ordinárias não parece se reduzir, as meninas não conseguem traduzir no plano profissional seu sucesso acadêmico, em um contexto no qual os diplomas se tornaram indispensáveis para o mercado de trabalho.

 

Ao mesmo tempo, os espaços escolares e educativos parecem se reconfigurar em torno da mobilização de novos atores e de novas formas de organização de atividades escolares e educacionais, da transformação das escalas de intervenção, da promoção de práticas diferentes e às vezes alternativas a um modelo de escola em dificuldade (Ben Ayed, 2009; Seddon & Levin, 2013, Maurício (ed.), 2014). Essa transformação anda de mãos dadas com um movimento internacional de redefinição dos modos de regulação dos sistemas escolares, caracterizado por uma competição crescente entre as escolas, apoiada por políticas públicas de efeitos matizados (Felouzis, Maroy, & Van Zanten, 2013). É necessário interrogar sobre os efeitos destas políticas em termos de espacialização dos problemas sociais dentro e em torno da escola, articulando a questão da desigualdade de recursos educacionais entre os territórios com as diferentes modalidades da ação educacional local. Os modelos centralizados se enfraquecem em favor de novas formas de organização escolar, que se constituem em torno da sedimentação dos modos de regulação (Buisson-Fenet et Pons, 2014) e da proliferação de dispositivos locais. Eles são percebidos como formas de responder à heterogeneidade dos públicos e a constrangimentos locais em geral assumidos como específicos. (Barrère, 2013). O crescimento da autonomia das escolas leva a que se estruturem esses dispositivos em torno de características dos territórios tomadas como dadas, e da mobilização das coletividades locais e territoriais, de associações comunitárias ou de proximidade, de movimentos de educação popular e de empowerment. O envolvimento desses novos atores no enfrentamento das questões escolares conduz sem dúvida a uma evolução dos campos de análise mobilizados, que transcendem o marco escolacentrista. Antes engajados em outras formas de abordagem da juventude, esses atores agora se mobilizam fortemente no enfrentamento de dificuldades específicas, que podem ser designadas como novas problemáticas educacionais.

 

Tais dificuldades podem ser designadas como “problemas públicos” (Cefaï & Terzi, 2012), que se colocam e se recolocam de maneiras específicas no espaço escolar. Eles perturbam ou questionam o funcionamento normal da escola e/ou colocam em questão suas funções sociais básicas. Suas formas de enfrentamento e de prevenção trazem à tona a articulação das missões tradicionais da escola em torno da instrução, da transmissão de conhecimentos e da construção de aprendizagem, com formas educacionais mais abrangentes. A promoção, no debate público e nos meios de comunicação e científico, das dificuldades consideradas como específicas decorrentes dessas novas problemáticas participam da sua própria definição e da mobilização dos diversos atores no seu enfrentamento (Isambert-Jamati, 1985). O insucesso escolar, a violência na escola, a evasão, as discriminações etnoraciais e de orientação sexual, são algumas dessas novas problemáticas educacionais cujas construções, usos e as críticas que lhes são dirigidas ainda precisam ser analisadas (Lemieux, 2009).

 

Pode-se perguntar sobre as condições de sua emergência nas demo- cracias cujos sistemas de educação são massificados. Trata-se de um efeito inevitável das organizações educacionais contemporâneas? Repre- senta um enfraquecimento da escola em sua vertente socializadora, uma incapacidade para conter os efeitos sistêmicos produzidos por decisões curriculares, ou ao contrário, uma forma de escolarização do social que exige um tratamento interdependente das dificuldades encontradas? Como essas dificuldades se sobrepõem aos contextos locais e a seus marcadores sociológicos? As formas de designação desses objetos, os meios utilizados para seu enfrentamento, a percepção dos atores e o que eles dizem da recomposição dos espaços escolares e educacionais estarão no centro da preocupação deste colóquio. Ele se propõe a ser uma oportunidade para colocar em diálogo pesquisas empíricas e objetos organizados em torno de metodologias e de teorias diversas que poderão, conforme os contextos interpelados, lidar com as formas de designação dessas novas problemáticas educacionais, as modalidades de seu enfren- tamento na escala local, nacional ou transnacional, e com o modo como tais situações são apreendidas pelas diferentes categorias de atores educacionais, aí compreendidos os estudantes. O colóquio também deve ser a ocasião para um intercambio de pesquisas que tratem das diferenças regionais ou nacionais, sempre levando em conta a importância da perspectiva da comparação internacional sobre estas questões.

 

Quatro Eixos de desenvolvimento e análise são propostos a seguir.

 

Eixo 1 Designar, classificar, ordenar as novas problemáticas educacionais

 

A fragmentação das dificuldades que a escola deve enfrentar às vezes alimenta a idéia de uma crise permanente da instituição escolar, percebida como frágil e dificilmente capaz de sustentar um projeto democrático igualitário e eqüitativo. A heterogeneidade dos alunos e sua maior ou menor proximidade do jogo escolar, favorecem o desenvolvimento de novas formas de enfrentamento que ultrapassam os quadros da escola tradicional. Muitas vezes associado a determinado tipo de aluno, um certo conjunto de assuntos é assim designado e tratado como problemas sociais que perturbam o mundo da escola. Quais assuntos podem ser entendidos como novos problemas educacionais e como compreender sua emergência? Qual relação pode ser estabelecida entre essas problemáticas e os sistemas de ensino no quais elas se inserem? Como caracterizar esses assuntos que atravessam a escola e a partir de quais lógicas? Sua designação varia de acordo com o tipo de ator social que neles atua? Quais seus vínculos com a designação de "públicos específicos?" A interpelação destes diferentes elementos deve permitir o exame das modalidades de construção social dos objetos considerados, sua inscrição historicizada nos debates em educação, e seu lugar nas formas de reorganização dos espaços escolares e educacionais.

 

Eixo 2 As políticas de luta e/ou prevenção em torno das novas problemáticas educacionais

 

Será discutida a definição, características e impactos das políticas de suporte para as novas problemáticas educacionais. Suas formas variam de acordo com os sistemas de ensino e níveis privilegiados de intervenção. A implementação das políticas nacionais, de dispositivos locais e de programas, às vezes implantados em escala internacional, traduz o engajamento dos diversos atores na resolução destas dificuldades. Quais são os espaços e as etapas mobilizados? Sob quais formas são organizadas essas políticas ou essas formas de intervenção? Quais são os contextos de seu estabelecimento e as condições para o seu sucesso? O que estão procurando e o que dizem a respeito dos movimentos de reconfiguração de espaços escolares e educacionais? Quais as regularidades e as diferenças observáveis a partir de comparações internacionais? Serão de especial interesse, por exemplo, as pesquisas que questionam as novas formas de educação prioritária e compensatória, o desenvolvimento de dispositivos educacionais no âmbito da escola ou de formas específicas de agrupamento de alunos, ou ainda os efeitos de programas de intervenção nos espaços escolares e educacionais.

 

Eixo 3 Modos de avaliação e julgamento de dispositivos escolares

 

Por meio de classificações e premiações, a avaliação em larga escala dos alunos e estabelecimentos escolares, cuja difusão regular e massiva ocorre desde 1981, contribui para hierarquizar os alunos, as escolas e para medir o desempenho educacional dos países. Ela é também amplamente mobilizada para aferir a eficácia e o impacto das formas de enfrentamento das novas problemáticas educacionais. Este eixo do Colóquio está interessado não apenas nessas avaliações ditas objetivas, que se valem de pesquisas quantitativas como naquelas sobre clima escolar, mas também nas dinâmicas de avaliação e julgamento alternativas a essas grandes enquetes nacionais e internacionais. É o caso das avaliações de atores escolares e educacionais, famílias e alunos. Nestes casos, a avaliação é entendida como uma prática que consiste em « apreciar padrões de conduta sob perspectivas recíprocas e com base em suas próprias razões de agir », e que é, nesse sentido, inerente à ação humana (Cottereau, 2012 ; Lamont, 2012). Como os atores se avaliam ? Quais são os usos concretos da avaliação quantitativa das novas problemáticas educacionais ? Quais são os efeitos dos instrumentos de avaliação sobre as práticas ? Nesse eixo também se espera uma reflexão sobre a metodologia implementada para captar estes processos de avaliações.

 

Eixo 4 Agir na escola e nos territórios

 

Entender quais são as evoluções notáveis e as transformações das formas de ação educacional e escolar também será objeto de preocupação do colóquio. Em particular, procurar conhecer qual atenção é dedicada às especificidades locais e a seus efeitos sobre as práticas e atuações profissionais. Um ponto de investigação poderá ser o da divisão do trabalho educacional no enfrentamento dessas problemáticas, e das mudanças ou continuidades da forma escolar em torno dessas questões. Quais são os efeitos da segregação social, sexual e espacial no interior das escolas, em especial no que isso afeta a trajetória escolar dos alunos? Como os estudantes e as famílias percebem essa espacialização dos problemas sociais e quais são as conseqüências das lógicas de concor- rência entre (micro) espaços escolares? Quem são os atores mobilizados e com base em quais critérios de legitimidade organizam suas ações? Quais formas de suporte os favorecem e segundo quais os registros de intervenção? Este eixo permitirá examinar a construção de vertentes e formas de inovação e experi- mentação engajadas em torno destas novas problemáticas educacionais. De que natureza são os dispositivos de co- educação do ponto de vista das famílias e como eles atuam nas formas de cooperação entre profissionais e pais de alunos. Qual o espaço para « alianças educacionais » (Gilles, Potvin et Tièch Christinat [éds], 2012) entre os diferentes atores mobilizados e segundo quais modalidades? O eixo também abriga discussões sobre as modalidades de reconfiguração dos espaços escolares e educacionais, legíveis na promoção de novas formas de co-educação e no desenvolvimento das lógicas de externali- zação pela escola do enfrentamento dessas novas problemáticas educacionais.

 

Submissão de proposta de comunicação 

- Todas as apresentações devem ser feitas em Inglês, FrancêsPortuguês ou Espanhol ;
As proposições devem ter em torno de 5 mil caracteres (incluindo espaços), incluindo título, uma apresentação da comunicação, objetivos e metodologia, assim como nome e sobrenome do autor, pertencimento institucional e email ; 
- Para as propostas do simpósio, contato severine.chauvel@u-pec.fr e benjamin.moignard@u-pec.fr

Coordenação científica

Séverine Chauvel & Benjamin Moignard Universidade de Paris-Est, França

 

Comissão organizadora

Séverine Chauvel, Universidade de Paris-Est, França

Juliette Garnier, Universidade de Paris-Est, França

Isabelle Le Gal, Universidade de Paris-Est, França

Benjamin Moignard, Universidade de Paris-Est, França

Gautier Scheifler, Universidade de Paris-Est, França

Tifen Jego, Universidade de Paris-Est, França

 

Comissão científica

Anne Barrère, Universidade de Paris-Descartes, França

Claire Beaumont, Universidade de Laval, Québec, Canadá

Valérie Becquet, Universidade de Cergy Pontoise, França

Lila Belkacem, Universidade de Paris-Est, França

Choukri Ben Ayed, Universidade de Limoges, França

Catherine Blaya, Universidade de Nice, França

Stéphane Bonnéry, Universidade de Paris 8, França

Marcelo Burgos, Universidade Pontifical do Rio de Janeiro, Brasil

Ana Cavaliere, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil

Gilles Combaz, Universidade Lumière de Lyon 2, França

Sigolène Couchot-Schiex, Universidade de Paris-Est, França

Eric Debarbieux, Universidade de Paris-Est, França

Benjamin Denecheau, Universidade de Paris-Est, França

Joseph Dougoudia Lompo, Universidade de Koudougou, Burkina Faso

Hugues Draelants, Universidade Catolica de Louvain, Bélgica

Farinaz Fassa, Universidade de Lausanne, Suiço

Dieynébou Fofana-Ballester, Universidade de Paris-Est, França

Philippe Goémé, Universidade de Paris-Est, França

Nassira Hedjerassi, Universidade de Reims, França

Gaële Henri-Pannabière, Universidade de Paris-Descartes, França

Marie-Anne Hugon, Universidade de Paris-Ouest-Nanterre, França

Francis Lebon, Universidade de Paris-Est, França

Vanja Lozic, Universidade de Högskolan Kristianstad, Suécia

Régis Malet, Universidade de Bordeaux 3, França

Fabienne Maillard, Universidade de Lille 3, França

Mathias Millet, Universidade de Tours, França

Marie-Pierre Mackiewiscz, Universidade de Paris-Est, França

Gilles Monceau, Universidade de Cergy-Pontoise, França

Glenn Muschert, Universidade Miami de Ohio, EUA

Anne-Claudine Oller, Universidade de Paris-Est, França

Gaël Pasquier, Universidade de Paris-Est, França

Jean-Charles Pettier, Universidade de Paris-Est, França

Xavier Pons, Universidade de Paris-Est, França

Jean-Yves Rochex, Universidade de Paris 8, França

Stéphanie Rubi, Universidade de Bordeaux Montaigne, França

Thomas Sauvadet, Universidade de Paris-Est, França

Chantal Tièch Christinat, Haute Ecole Pédagogique du Canton de Vaud, Suiço

Agnès Van Zanten, Sciences-Po Paris, França

Sandra Ziegler, Universidade Federal de Paraiba, Argentina

 

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